sábado, 2 de outubro de 2010

O Pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial.

Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma.

O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos.

De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

(Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro; texto publicado em 1958, extraído do livro “Ai de ti, Copacabana”)
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