Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas
não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim
não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias
humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das
pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de
crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo
para gostar dos mesmos gostos. Que se comova, quando chamado de amigo. Que
saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das
recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para
contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das
realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças
de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.
Precisa-se de um
amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já
se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se
viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos
ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a
consciência de que ainda se vive.
Vinícius de Morais